quarta-feira, 28 de novembro de 2012

A Gralha, O Ser Humano e o Capitalismo


Dias desses tive que ficar um tempo atoa no centro de Curitiba até meu próximo compromisso e decidi sentar em uma sombra do Passeio Público e ler um livro, foi ai que me deparei com uma cena que me intrigou. Uma gralha, que por algum motivo tinha fugido de seu viveiro, estava parada na tranca do seu antigo cativeiro, “gralhando” desesperadamente para entrar, e ter sua liberdade cerceada novamente.
O animal estava ali nesta situação, devido ao fato de provavelmente ter nascido e crescido em cativeiro, e agora em vida adulta obviamente não teria as ferramentas necessárias a sobrevivência em liberdade, pois o ser o humano que o trancou, supriu suas necessidades básicas de maneira a suprimir seus instintos, ficando assim como todos os animais em cativeiro dependentes de seus algozes.
Isso me fez refletir sobre nós seres humanos, e como a nossa sociedade capitalista através de suas várias instituições exerce o papel que o ser humano exerce sobre a gralha, castrando nossos instintos de liberdade, cerceando nosso potencial de autonomia, ou seja criando a sensação de que o ser humano necessita do sistema capitalista pra viver e não ao contrario.
Uma das instituições fundamentais neste processo de castração da autonomia e liberdade é a escola, deste a educação infantil, somos treinados e moldados a não sermos livres nem autônomos, o melhor aluno, o mais elogiado, não é o de maior iniciativa e autonomia, mas sim o mais disciplinado, o que obedece melhor, e assim os seres humanos crescem, internalizando e naturalizando essa obediência e aceitação de tudo como está dado.
Essa disciplinização serve unicamente ao mercado capitalista, pois bons proletários aos olhos dos patrões, são os servis e obedientes com pouco poder de reflexão sobre a sociedade de uma maneira mais ampla, assim aceitamos como normal toda exploração que é produzida e reproduzida em nossa sociedade pois fomos encarcerados e treinados a aceita-lá, acreditando que esta é a única maneira de suprir nossas necessidades.
Assim acreditamos que este sistema, assim como o ser humano em relação a gralha, supri todas nossas necessidades, e que vivemos em perfeita harmonia e gozo de todas as nossas potencialidades, porém, assim como a gralha não sente ser cerceado os seus instintos de voar e de poder ter a liberdade de transitar entre infinitas paisagens, nós na maioria das vezes também não sentimos termos nossa liberdade, nossa autonomia entre outras necessidades castradas, pois simplesmente não as conhecemos plenamente. Do mesmo modo que a gralha só conhece as necessidades e potencialidades que o ser humano a permitiu conhecer, nós seres humanos só conhecemos as necessidades e potencialidades com as quais conseguimos ter contato.
Não sejamos mais uma gralha neste sistema, enjaulados em nossas rotinas, presos em todas as certezas que nos são impostas, acreditando que o mundo acaba no fim do nosso cativeiro, não sejamos portanto, reféns do nosso grande algoz. Mas “gralhemos” sim, com a mesma força e energia que chega a incomodar os ouvidos no canto de uma gralha, “gralhemos” contra tudo e todos que tentam nos convencer de que nossos limites estão pré-determinados, vamos incomodar os ouvidos do sistema como o nosso “gralhar”.