sexta-feira, 20 de maio de 2011

Hipocrisia em torno do debate sobre o "kit Gay"

A cada dia que passa o debate em torno da cartilha sobre homofobia, tão carinhosamente apelidada pelos "bons cristãos" de "kit Gay" aumenta. Sobre tudo, ganham mais força na mídia, os discursos de religiosos, que classificam a cartilha como algo anti-pedagógico, que vai estimular os filhos de "boas famílias" a seguir esse "caminho tortuoso".
Alguns pontos nesse debate me chamam mais atenção, o primeiro é o massacre mídiatico do pensamento de alguns lideres religiosos, pois como eles detêm não só o controle de várias emissoras, naquelas em que eles não controlam diretamente ele são no mínimo "bons clientes" que pagam somas exorbitantes em troca de suas madrugadas na programação. Enquanto isso movimentos sociais e especialistas em educação que não concordem com a visão deles não tem espaço para defender seu ponto de vista.
Outro item interessante dos ataques dos lideres religiosos e moralistas de plantão, são os argumentos, donde deriva a "hipocrisia" do título, que soam de uma infantilidade tremenda, e que só se difundem na sociedade devido a grande mídia colocar isso como verdade absoluta o tempo todo. Um deles é "não devemos expor nossas crianças a ver e ler cenas que tenham conteúdo relacionado a sexualidade independentemente da orientação", então porque deixam seus filhos e filhas assistirem a novelas, filmes, e até programas infato-juvenis onde a sexualidade é explicita? Assistir programas como a Malhação, da toda poderosa globo, em que adolescentes que não transam são taxados de problemáticos e atrasados é melhor pra educação sexual de um jovem, do que ele receber informações sobre a existência e a tolerância em relação a outras orientações sexuais?
O argumento mais hipócrita pra mim é, "não é função da escola tratar de assuntos morais, ela deve tratar apenas de conteúdo acadêmico", essa é na verdade a maior balela de todas, primeiro que no atual modelo de nossa sociedade, as crianças passam mais tempo na escola do que com os pais, e objetivo é que isso sempre aumente, veja o grande número de pessoas que defendem a escola integral, e passando todo esse tempo na escola, mesmo que indiretamente ele não vai captar valores morais, com professores e colegas de estudo? Não é melhor que isso seja de forma pensada, e problematizada? E mesmo que seguíssemos a ideia de tal argumento, tratando apenas de conteúdo acadêmico, como trabalhar filosofia e sociologia sem falar de tolerância.
Ora, se a escola, espaço onde temos pessoas de vários credos, religiões, cores, sexo, orientações sexuais, orientações filosóficas diferentes convivendo no dia-dia, não é o espaço adequado para que seja discutido questões quanto a tolerância, e respeito a diversidade, qual seria este espaço ideal? As congregações religiosas? Espaços onde qualquer fundamentalista com boa retórica, como o "tele-pregador" Silas Malafaia podem assumir o espaço de líder "intelectual", espaços estes onde a diversidade é proibida, pois as religiões não mutáveis, elas são feitas só para aqueles que as aceitam sem questionamentos, quem não concorda não serve, portanto são grupos de pessoas que pensam iguais, e qualquer criança que cresça só neste meio, acreditará fielmente que a verdade absoluta é a de sua religião, o que além de ser crime contra a formação intelectual da criança, é um crime contra a convivência em sociedade.
O fundamentalismo presente no discurso dos religiosos é absurdo, as falas do Malafaia contra os "infiéis que defendem a barbárie" não difere em nada do discurso de Osama Bin Laden contra os "infiéis do ocidente", ambos tem um discurso fundamentalista baseados na intransigência e rigidez na obediência a determinados princípios ou regras.
Na verdade, se tais debates são necessários hoje em dia, muito se deve a religiões e doutrinas, que aos poucos, ao longo de séculos, afim de afirmarem suas verdades absolutas, segregaram e dividiram a humanidade, tornando pessoas melhores que as outras por serem de cor, gênero, orientação sexual, ou apenas de terem pensamentos diferentes da irracionalidade pregada por elas.


Um comentário:

  1. olá amigo,

    é realmente lamentável os número de argumentos que são utilizados hipocritamente

    mas tbm não podemos generalizar, as religiões na teoria seriam mesmo imutáveis, porém não é bem assim, tanto que grupos religiosos que se baseiam nos mesmos livros divergem constantemente.
    Esses líderes que se autodenominam representantes de tal religião, muitas vezes acabam sujando a imagem destas.
    Vou dar um exemplo, quem é cristão acredita, quando Jesus chegou e começou a pregar, muitos "líderes religiosos" que pregavam falsas verdades absolutas foram contra ele.
    Acredito que ao contrário do que muitos pensam, é possível sim debater com alguém religioso, claro que ambas as partes devem estar dispostas.
    Bom texto!

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