Um tema que esta em constante debate em nossa sociedade é a questão da violência, desde rodas de papo nos locais de trabalho até os debates mais "intelectualizados", e sempre é colocado como principal questão, pelo menos pela grande maioria das pessoas e principalmente pelos orgãos da mídia, como enfrentar o crime e ganhar a guerra. Porém a violência é sempre colocada como uma degeneração do ser humano, uma fuga de conduta, e nunca como um produto do mercado comercial e cultural de nossa sociedade.
Ao navegar em sítios de notícia esta manhã me deparei com duas noticias que me fizeram refletir sobre essa questão, como ao mesmo tempo, o mercado e a mídia, produz e difunde a violência na sociedade e por outro lado condena-a e caracteriza como a grande degeneração da humanidade, como se a todos os atos de violência fossem frutos de desvios individuais de caráter e não resultados de um sistema social no qual todos estamos inseridos.
A primeira notícia que me chamou a atenção foi referente a como o famoso "BOPE" em ação conjunta com a Marinha do Brasil, estavam invadindo "bravamente" as favelas do Rio de Janeiro para combater os traficantes, que em cerca de uma semana já queimaram mais de 40 veículos. A notícia exalta como os governantes estavam tendo atitudes enérgicas para combater essas ações violentas, e que tais ações eram fruto, único e exclusivo, da indignação dos traficantes frente a instalação das tão divulgadas UPP's (Unidades de Policia Pacificadora), que segundo o governo do Rio de Janeiro estão erradicando o tráfico e o crime das favelas com a ocupação e controle policial.
Logo em sem seguida, ao navegar em outro conglomerado de notícias, me deparo com uma manchete que diz algo como "Boninho libera a porrada no BBB11", e abro uma matéria em que exalta o fato de o diretor do famoso reality show , ao divulgar as regras para a próxima temporada afirmar que a agressão física não será mais punida pela regra do jogo, na mesma reportagem o diretor afirma ainda que ao contrário da edição anterior, onde a única bebida alcoolica permitida era as famosas vodcas "ices", agora segundo palavras do diretor, não vai mais ter bebida de criança, ele vai colocar um bar nas festas para que os participantes possam fazer o máximo de misturas, ou seja, ele vai "liberar a porrada" e incentivar o porre, o que com certeza, e Boninho tem fé nisso, uma coisa levará a outra e as duas juntas a altos índices de IBOPE.
O que fica claro, ao ler estas duas reportagens, é que por um lado a mídia coloca a violência como uma degeneração do caráter, onde os traficantes indignados com o bom trabalho da policia promovem atos insanos de vandalismo, e que o estado energicamente age com mais violência para salvaguardar a propriedade privada e a segurança dos "homens de bem". Por outro lado, a mídia vende a violência como mero produto, incentivando que participantes de um programa que possui altos índices de IBOPE a se embebedarem para, propricipar agressões físicas entre eles, tudo com a intenção de vender mais carros, motos, sandálias, refrigerantes e outros produtos que anunciam no programa e garante o suntuoso premio de 1,5 milhão de reais.
A grande questão é que a violência é debatida nos "grandes espaços", sempre de acordo com os interesses da classe que detêm o poder, ora como uma degeneração do ser humano, sobre tudo do ser humano pobre, ora é colocada como um produto, nas atitudes dos "ídolos" televisivos, através de programas de TV, filmes, seriados, etc. E em ambas as abordagens o que sobressai é que só a violência supera a violência, o mocinho precisa matar mais que o bandido para vencer a eterna luta do bem contra o mal. O debate sempre passa longe das questões estruturais que geram a violência em nossa sociedade, o que produz a violência não é a degeneração individual do caráter, são as questões de moradia, terra, trabalho e saúde, enquanto tais questões não foram resolvidas a violência continuará a ser produzida cada vez mais. Em quanto o trabalhador não tiver direito a Terra, Trabalho, Casa e Saúde, podem vir milhares de tanques e fuzis que não vencerão a batalha contra a violência.
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